A Fábula da Formiga e da Cigarra escrita por Jean de La Fontaine vem sendo usada através dos tempos para ensinar às novas gerações o valor do esforço e da previdência. A moral desse conto é facilmente entendida por qualquer criança, mas parece que a mente esquerdizada não consegue chegar nem mesmo neste nível.
Abaixo segue uma versão de como seria contada essa fábula nos dias de hoje:
A Fábula da Formiga e da Cigarra (Versão séc. XXI)
Por Thomas Sowell
Tradução e adaptação de Miguel Nagib
Assim como os filmes "Rocky" e "Guerra nas Estrelas" tiveram suas seqüências, as velhas fábulas deveriam ter as suas. Aqui está a seqüência para uma delas: A Formiga e a Cigarra.
Era uma vez, uma cigarra e uma formiga que viviam no campo. Durante todo o verão, a cigarra cantou e dançou, enquanto a formiga trabalhava duro debaixo de um sol escaldante para armazenar comida para o inverno. Quando o inverno chegou, a cigarra teve fome e, num dia frio e chuvoso, procurou a formiga para pedir-lhe comida.
"Quê?! Você está maluca?", disse a formiga. "Eu arruinei minhas costas durante todo o verão enquanto você cantava e ria de mim por não aproveitar a vida..."
"Eu fiz isso?", perguntou a cigarra mansamente.
"Sim! Você disse que eu era um desses bobalhões que não compreendiam a essência da moderna filosofia da auto-realização."
"Puxa, sinto muito", disse a cigarra. "Eu não sabia que você era tão sensível. Mas certamente você não vai usar isso contra mim numa hora dessas."
"Bem, eu não costumo guardar rancor, mas tenho boa memória." Eis que aparece uma outra formiga.
"Olá, Lefty!", disse a primeira formiga.
"Olá, George."
"Lefty, você sabe o que essa cigarra quer que eu faça? Que eu lhe dê uma parte da comida pela qual eu trabalhei tanto nesse verão, sob o sol inclemente."
"Ora, na minha opinião, isso é o mínimo que você devia fazer, até mesmo sem esperar que ela lhe pedisse" disse Lefty.
"Quê?!"
"Quando a natureza distribui seus frutos de forma desigual, podemos ao menos tentar corrigir a desigualdade."
"Frutos da natureza uma ova!", disse George. "Eu tive de carregar toda essa comida até aqui, subindo o morro e cruzando um riacho num pedaço de pau, sem me distrair um segundo para não ser comido por outros bichos. Por que esse vagabundo não fez o mesmo para ter o que comer no inverno?"
"Calma, calma, George", amenizou Lefty. "Não devemos usar a palavra 'vagabundo'. Hoje dizemos 'sem-teto'."
"Pois eu digo 'vagabundo' mesmo. Qualquer um que seja tão preguiçoso que não cuide para ter um teto sobre a sua própria cabeça, que prefira ficar na chuva a fazer um pequeno esforço..."
"Eu não sabia que ia chover desse jeito", interrompeu a cigarra. "O serviço de metereologia previu que faria bom tempo."
"Tempo bom?", George resmungou. "Foi isso mesmo o que o homem do tempo havia dito a Noé."
Lefty pareceu afligir-se. "Estou surpreso com a sua crueldade, George, seu egoísmo e sua avareza."
"Você ficou louco, Lefty?"
"Não, pelo contrário, eu fui educado."
"Bem, hoje em dia isso pode ser até mais grave."
"No verão passado, eu segui uma trilha de migalhas de biscoito deixada por um grupo de estudantes que me levou a uma sala de aula na Universidade."
"Você esteve na Universidade? Se é assim, não me surpreende que tenha voltado com esse belo discurso e essas idéias idiotas."
"Eu me recuso a dialogar nesses termos. Em todo caso, lhe digo que participei do curso de Justiça Social do Professor Murky. Ele explicou como a riqueza do mundo é distribuída de forma desigual."
"Riquezas do mundo?", repetiu George. "O mundo não carregou essa comida morro acima. O mundo não cruzou o riacho num pedaço de pau. O mundo não correu o risco de ser comido por um devorador de formigas."
"Essa é uma forma estreita de enxergar o problema", disse Lefty.
"Se você é tão generoso, por que você mesmo não dá de comer a essa cigarra?"
"É isso o que eu vou fazer", replicou Lefty. E, virando-se para a cigarra, lhe disse: "Venha comigo. Vou levá-la ao albergue do governo. Lá você terá comida e um lugar para dormir".
"Ah, você está trabalhando para o governo agora?!"
"Sim, eu entrei para o serviço público", disse Lefty orgulhoso. "I want to 'make a difference' in this world."
"Vê-se que você realmente esteve na Universidade...", disse George. "Mas se você é tão amigo da cigarra, por que você não a ensina a trabalhar durante o verão para ter o que comer no inverno?"
"Nós não temos o direito de mudar seus costumes e tentar fazer que ela seja como nós. Isso seria imperialismo cultural."
George estava chocado demais para responder. Lefty não apenas ganhou a discussão, como continuou a expandir o seu programa de albergues para cigarras. Como a notícia se espalhou, uma multidão de cigarras começou a chegar de toda parte. Até que algumas jovens formigas decidiram adotar o estilo de vida das cigarras.
Quando a geração mais velha de formigas se foi, mais e mais formigas se juntaram às cigarras. Finalmente, todas as formigas e todas as cigarras passaram a usar o seu tempo curtindo a vida, sem compromissos, e viveram felizes para sempre - isto é, durante o verão. Então veio o inverno.
2 comentários:
Adorei a parte do "IMPERIALISMO CULTURAL", me lembrou meus alunos em uma aula sobre EDUCAÇÃO INDIGENA me perguntando se não era melhor se a gente ensinasse os índios a viverem como a gente. Perguntei o porquê e o inergumino me responde:
- Ai professora, pelo amor, imagina, viver pelado por ai, ter que caçar pra comer e viver numas cabanas caindo aos pedaços e massacradas pelo frio e pela chuva? Era melhor que eles vivessem como a gente mesmo...
Gostei!
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